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ENTRE RAPOSAS E URSOS

Sobre raposas e ursos

 

Esse pode parecer um título estranho para cinófilos que vivem fora do mundo dos pomerânias, mas talvez seja a maior fonte de dor de cabeça, decepção e mal entendidos pra quem vive nele. Tanto para os criadores como para os novos proprietários (sim proprietários, não tutores, mas isso é um próximo capítulo).

Vejamos, o padrão do Spitz Alemão Anão, categoria que corresponde ao Lulu da Pomerania, sendo portanto termos sinônimos, é muito especifico quanto a aparência que ele deve ter.

Vejamos algumas partes do padrão para analisar:

APARÊNCIA GERAL: Os Spitz cativam pela beleza de sua pelagem, feita para ficar externamente ao abundante subpelo. Particularmente impressionante é o forte tipo de juba ao redor do pescoço (“rufo”) e a espessa cauda atrevidamente portada sobre o dorso. A cabeça de raposa com olhos alertas e as pequenas orelhas pontudas, inseridas próximas uma da outra, dão ao Spitz sua característica única, uma aparênciaatrevida. (Negrito e sublinado nossos). https://cbkc.org/application/views/docs/padroes/padrao-raca_122.pdf

 

Bom, se o padrão é tão claro sobre qual a aprencia um spitz deve ter, porque tanta gente procurando por spitz com cara de “ursinho”¿

Eu acho esse pergunta bem curiosa e deduzo alguns motivos:

 Ted Bear Face, doll face, baby doll, são termos usados para várias raças de colo. É um apelo antigo e de puro marketing para atrair pessoas que procuram cães com cara de bebê. Isso na maioria das vezes é pura enganação, e os doll face só tem carinha de boneca enquanto filhotes e com as tosas corretas que forçam essa aparência.

Outro motivo pra vendedores e até criadores usarem esses termos é pra distinguirem seus filhotes de outros com linhagens fracas e ate mestiços, que em geral já nascem com carinhas mais alongadas e rústicas. Infelizmente como há pouco controle sobre a criação de cães, o que mais vemos são esses cães sem padrão pululando sites e pet shops. Triste pensar que os criadores tenha de apelar para esse tipo de nomenclatura para distinguir seus cães dos “baratinhos”. E pior, os maus criadores e cachorreiros focados apenas em vendas, quem em geral tem muita lábia, rapidamente aprendem esses termos e, na base do lero-lero, convencem os incautos que seus filhotes tem essas características. Esse termo, entre os pomeranias, ficou fixado como “cara de ursinho”(tradução de ted bear face)...

Outro fenômeno, especifico do “Mundo Pomerânia”, chama-se BOO; um cãozinho fofo, com sérios problemas de saúde, orelhas caídas, que nem sequer é tamanho pequeno (não, o Boo não é anão), com tosa inapropriada para a raça, enfim, totalmente fora de padrão, e que virou febre na mídia.

Eu fico já de pé atrás quando um cliente me chama querendo um “Boo, anão, no padrão, ursinho, etc...” É quase como querer um quadrado redondo azul porem rosa. Se é Boo não é nem anão nem ursinho , e nem mesmo saudável. Se é ursinho já não é padrão...Enfim, acho muito difícil responder a essa solicitação. Seria fácil, se eu soubesse mentir. Esse tipo de pedido que causa frustração nos criadores sérios, pois não conseguem estabelecer um diálogo com o cliente, e gera tripla frustação com comprador quando, 1 ou 2 anos depois, se dão conta, finalmente, que foram enganados por um cachorreiro qualquer. Outro grande problema do Boo é que ele usa uma tosa totalemente inapropriada para a raça, que em cerca de 20 a 30% dos exemplares vai causa alopecia por tosa, uma condição triste e muitas vezes sem retorno. O cliente que se achou muito esperto comprando o tal do Boo anão ursinho ao fim de alguns anos tem em sua casa um exemplar atípico, (isso inclui temperamento!!!!) padrão pequeno pra médio, careca, prognata, comprido, sem saúde e sem ter a quem recorrer...(Tá, esse é a pior das hipóteses, mas acontece em aprte ou na totalidade).

O que eu vejo muitas pessoas querendo ursinho é porque veem por aí muitos exemplares atípicos pelo outro lado, ou seja, cães crânio estreito, orelhas enormes e abertas, focinho fino e comprido, pouco pelo...isso corresponde a um padrão muito antigo, de alguns séculos atrás, que vemos em alguns quadros de museus, e ocorre sempre que algumas poucas geração de cruzamentos sem critérios são feitos. Esses cães em geral tem pedigree, são baratos e frutos de criadores sem critério e nem conhecimento, que também não investem no próprio plantel, cruzando qualquer 2 exemplares com pedigree comprados com o mínimo de custo possível. Isso acontece também em cruzamentos caseiros, que as pessoas colocam 2 bonitinhos pra cruzar, sem conhecer as particularidades da raça, sem o mínimo conhecimento do que fazem. É aquilo, as vezes da certo, as vezes dá errado, mas como o comprador vai levar alguns anos pra descobrir, ou vai amar tanto o seu cãozinho que em alguns anos nem vai ligar se é padrão ou não, tá “tudo certo”...

Temos ainda o fenômeno dos “asiáticos”...

Não sei o que foi feito na China, não vou expor minhas suspeitas, mas de uns anos pra cá o mercado foi inundado de cães asiáticos, O branco neve que não era visto nem desejado na raça virou febre, o povo começou a inventar “categorias de branco” o branco original da raça passou a ser desperezado em vista das novas linhagens. Enfim, toda raça evolui, eu mesma me apaixono por esses branquelos, mas há que se ter critério. Esses branquinhos são despejados na Europa em navios, as centenas, e com eles vieram alguns problemas bem sérios. O principal deles é o prognatismo. O segundo e a textura errada do pelo, e muitas vezes, a temida alopecia X vem no pacote. Eles tem uma cara diferente, que algumas pessoas identificam como “cara de ursinho” e na verdade lembra muito a cara do pequinês ou o shih tzu. Inclusive a parte do prognatismo é igual...Cada um que tire suas conclusões.

Criadores sérios que querem introduzir o branco em sua criação, costumam fazer um “blend”, ou seja, mistura de linhagens confiáveis com linhagens asiáticas, a fim de tirar o melhor de cada uma. Esses criadores sabem reconhecer os problemas e as qualidades de cada exemplar, e inclusive precificar seus filhotes baseados nisso. Portanto não se assuste quando um exemplar custar “x” e outro, aparentemente igual, do mesmo criador e as vezes até dos mesmo pais, custar “4x”.  Também não se assuste quando um criador vende tal exemplar “apenas para companhia”. Ele tem seus motivos. Pode olhar que os exemplares “para companhia” tem um valor muito inferior aos para “reprodução”. Isso é feito em benefício da raça. Não é nenhuma esperteza comprar um exemplar “pet” baratinho e tentar ser criador a partir daí...é apenas um  desserviço à raça.

Essas são somente algumas considerações pessoais que faço sobre o assunto, visando esclarecer os meus clientes e explicar o meu modo de pensar a raça e a criação.  Quem concordar comigo, sinta-se a vontade de vir conhecer meus bebês e minha criação. Será um prazer!

 

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